segunda-feira, 30 de junho de 2014

QUANDO A “ZOEIRA” VIRA BULLYNG

Quem nunca foi zoado ou zoou alguém na escola ou na vida? 
Apelidos humilhantes, risadinhas, fofocas, enfim... Todo mundo já testemunhou, participou ou foi vítima de “brincadeiras” desse tipo. Parece tão comum. Tão normal. Só que não!
Poderíamos definir “brincadeira” como uma situação onde todos se divertem.
Quando uns se divertem e outros sofrem, principalmente por ser o “motivo" da diversão, o que existe na verdade é agressão. Situações onde existe a maldade e o desejo de diminuir o outro não tem nada de inocente.
Bullying é uma palavra de origem inglesa (bully: tirano ou valentão) usada para descrever atos de violência física ou psicológica praticados repetidamente por uma pessoa ou grupo de indivíduos contra outra, causando tensão, dor e angústia.
A adolescência é um momento de construção de identidade, onde fazer parte do grupo, da tribo, tem uma grande importância na construção da autoimagem do jovem.
Ao mesmo tempo vivemos em uma sociedade que parece não lidar muito bem com as diferenças e a educação para a intolerância com o diferente parece ser construída e adubada em casa mesmo.
Crianças e adolescentes que vivenciam os exemplos da intolerância (por etnia, crença religiosa, aparência física, orientação sexual, classe social, etc.) dentro de casa, mesmo que de forma subjetiva, serão mais propensos no grupo a reagirem de forma negativa, ofendendo, humilhando e isolando aqueles que apresentem características “diferentes”.
Em tempos de redes sociais e grupinhos no What’s App, a coisa tem piorado muito. O cyberbullying é uma realidade que não dá para ignorar, multiplicando a dor e a humilhação das vítimas.
A vítima de bullying muitas vezes se cala (e muitos expectadores também), sofrendo em silêncio. Falta entendimento e também canais de acolhimento para as vítimas e também para os agressores. Discutir o tema em casa e na escola é um caminho. Orientar as crianças e adolescentes sobre a diferença entre uma gozação e o bullying também.
Sabemos que em grupo todo mundo é corajoso é que, muitas vezes, o agressor (ou agressores) tem fortes sentimentos de impotência e inadequação, o que faz com que agredir o outro seja uma forma de lidar com a sua própria baixa estima.
Fazer o agressor se confrontar com seus reais motivos é necessário e, para tanto, o aconselhamento psicológico para ele/eles e familiares é essencial, principalmente porque adolescentes que praticam bullying têm fortes propensões a desenvolverem comportamentos antissociais e/ou violentos quando adultos.
Agora, a melhor prática antibullying é investir em uma educação que contemple a diversidade e os valores humanos. E quando falo em educação não estou falando tão somente no papel da escola (que é transmitir conhecimento), mas principalmente na educação familiar que, infelizmente, tem sido “terceirizada”. 
Independente da classe social, o que se vê hoje em dia são pais declinando de seus papeis de educadores em favor da escola, dando a elas uma função que na realidade elas não têm: educar seus próprios filhos.


Irene Carmo Pimenta é Psicoterapeuta, Analista Junguiana, Pesquisadora e Palestrante na área de psicologia e  espiritualidade. Para saber mais sobre o seu trabalho visite o site: www.oficinadeconsciencia.com.br

terça-feira, 15 de abril de 2014

ALÉM DA ILUSÃO


A ILUSÃO é a filha dileta do APEGO.
Nos apegamos a coisas, pessoas e principalmente nos apegamos “as verdades do ego”.
Desconectados da essência da alma ficamos tal qual crianças teimosas querendo que coisas e fatos tornem-se aquilo que queremos que se tornem, ignorando a realidade que se apresenta diante dos nossos olhos.

Há um conto do sufismo muito interessante que pode ilustrar um pouco essa nossa “teimosia”.

 “Mulla Nasrudin (um mestre sufi) foi ao mercado com seus discípulos e comprou uma cesta de pimentas, e começou a comê-las uma a uma, sofregamente.
Seu rosto foi ficando vermelho, seu nariz começou a escorrer, seus olhos lacrimejavam...
Nasrudin começou a engasgar e a perder o ar. Incrédulos os discípulos gritaram:
-  Senhor! Porque não para de comer essas pimentas?
Nasrudin respondeu: Quem sabe eu não encontro uma doce?”
Assim somos nós. A nossa alma arde, sangra, chora!
Mas, o ego diz: “Continua... quem sabe?”
Quem sabe tem algo doce no fim dessa história amarga.
Eu lembro que há muitos anos atrás eu ouvi de um desses mestres anônimos que cruzam nosso caminho: GOIABEIRA DÁ GOIABA.
Buscamos a fruta dos nossos desejos na árvore errada, e apesar da frustração continuamos a buscar a fruta dos nossos desejos na árvore errada.
Continuamos a mastigar pimentas ou chupar limões pensando que talvez se tornem doces.
Enxergar a realidade além dos véus da ilusão auto impostos pelo nosso ego infantil é dar um passo importantíssimo em direção à maturidade emocional.
Vai doer? Provavelmente sim. Mas, como bem disse Jung:
“Não é possível tornar-se consciente sem passar por sofrimentos”.


Irene Carmo Pimenta


NOTA:
Mulla Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din) viveu no século XIV. Contou e escreveu histórias onde ele próprio era personagem. São histórias que atravessaram fronteiras desde sua época, enraizando-se em várias culturas. Elas compõem um imenso conjunto que integra a chamada Tradição Sufi, ou Sufismo, seita religiosa de antiga tradição persa e que se espalha pelo mundo até hoje.

LIBERTE-SE


sexta-feira, 4 de abril de 2014

O SUAVE CAMINHO DE ALOHA

Para os nativos do Hawaii ALOHA não é uma simples saudação de chegada ou despedida. Aloha é uma filosofia espiritual.
O Espirito de Aloha é o suave caminho do AMOR COMPARTILHADO e a alegria de viver esse caminho.
 Ao trilharmos o caminho de Aloha, nos sintonizamos com o Poder Divino que os nativos chamam de Mana, pois o caminho de Aloha é feito de compartilhamento e bênçãos.
Para estar em Aloha precisamos praticar Ho’o ka’ana (dividir equitativamente com todos). Esse é um principio comum a todas as tribos nativas de todo o planeta.
Contudo, falar de “compartilhamento” em uma sociedade ocidental que se baseia em somar, subtrair e multiplicar bens pode parecer quase impossível. A ideia de divisão estará sempre vinculada ao apego as nossas posses e a padrões de comportamento adquiridos nessa mesma sociedade. Precisamos reconhecer a nossa possessividade e nossos apegos para compreender o verdadeiro sentido de Ho’o ka’ana.
A partir dessa compreensão saberemos compartilhar em  Aloha e vamos perceber que o sentimento de separação e isolamento que sentimos é uma ilusão.
O Caminho de Aloha nos traz a certeza que somos parte de um TODO. Os antigos Kahunas do Hawaii chamam esse todo de Teia Aka – A Grande Teia da Vida.
Em Espirito de Aloha  vamos descobrir a verdadeira dimensão da Teia Aka na qual estamos inseridos. E compreender que não a percebíamos por tê-la dividido em partes.

MEDITAÇÃO ALOHA
Vamos nessa prática exercitar cada virtude expressada na palavra ALOHA:
A - AKAHAI: (Bondade) Respire e ao expirar diga mentalmente: Eu deixo fluir bondade em meus pensamentos e ações. EU SOU AMOR.
L - LOKAHI: (Unidade) Respire e ao expirar diga mentalmente: Eu sou Um com o Todo e expresso essa unidade com Harmonia. EU SOU HARMONIA
O – OLUÓLU ( Aceitação ) Respire e ao expirar diga mentalmente: Eu compreendo e aceito a diversidade dentro da Teia da Vida  com alegria e prazer. EU SOU ALEGRIA
H – HA'AHA'A (Humildade) Respire e ao expirar diga mentalmente: Eu expresso a humildade com modéstia. Eu expresso a PUREZA do meu espirito.
A – AHONUI (Paciência) Respire e ao expirar diga mentalmente: Eu expresso minha paciência com perseverança. EU SOU PAZ

ALOHA MAHALO

Irene Carmo Pimenta

sábado, 8 de março de 2014

RAPUNZEL


Os contos de fadas sempre me fascinaram. Minha mãe foi uma boa contadora de histórias e isso de certa forma contribuiu para que eu me tornasse uma leitora voraz desde a mais tenra idade.
O conto “Rapunzel” sempre despertou meu interesse... Tanto que o poema que eu posto na sequência foi escrito na minha adolescência. Relendo-o percebo algo que transcende as palavras escritas a lápis em uma página amarelada pelo tempo, provavelmente extraída de algum caderno escolar.
Através dele, eu entro em contato com a adolescente que  fui (e que ainda mora nos porões da minha psique). Percebo agora, que ali naquele momento e fazia um pacto comigo mesma.
O Conto “Rapunzel” abriu para mim,  sem que eu tivesse consciência, portais para universo dos arquétipos*. Talvez naquele momento eu tenha me conectado com a “alma” de toda a minha ancestralidade feminina.
Anos depois, tornei-me uma “cuidadora de almas”, psicoterapeuta e analista junguiana e criei o Projeto “Era uma vez... Histórias pra gente acordar”. São oficinas baseadas em contos de fadas, que funcionam como ferramentas de auto reconhecimento.
Utilizei muitos contos nas oficinas, mas não Rapunzel. Talvez até porque eu ainda estivesse trilhando o caminho dela. Com um “animus”** perambulando cego pelas florestas do inconsciente.
Mas algo mudou. Enquanto eu preparava o lançamento do Blog, o desejo de compartilhar Rapunzel bateu forte e junto com ele a inspiração para transforma-la na próxima oficina do projeto.
Compartilho então com os leitores e leitoras o poema Rapunzel. Um pacto que uma adolescente fez com a vida: ser responsável por si mesma.

RAPUNZEL
Oh! Rapunzel sem tranças
Presa na torre de vidro
Da solidão coletiva.
Não veio príncipe nem nada...?
Sequer uma bruxa malvada,
Pra lhe fazer companhia?
Então Rapunzel-menina,
Inventa outra escada!
Foge da torre que a vida,
Não vai lhe esperar parada.
Monta seu próprio cavalo.
Seja sua própria heroína!

Irene Carmo Pimenta

Notas:
Arquétipo: Do grego: “cunhagem original”. Imagens primordiais que se originam de uma constante repetição de uma mesma experiência durante muitas gerações. São formas sem conteúdo próprio que servem para organizar e canalizar material psicológico.
Pra explicar um arquétipo tendemos a usar expressões como: “é como se...”

Animus: A personificação da natureza masculina do inconsciente da mulher.

Para mais informações sobre o "Projeto Era uma vez..." e as datas das próximas oficinas entre em contato através do e-mail contato@oficinadeconsciencia.com.br ou através do site www.oficinadeconsciencia.com.br

sexta-feira, 7 de março de 2014

DIA INTERNACIONAL DA MULHER. Não será tempo de resgatar o Feminino Sagrado?

Ao longo dos séculos a relação do homem com a natureza tem sido exatamente a mesma relação que ele mantém com o FEMININO. E não falo aqui só da questão de gênero (mulher) e sim da essência do feminino,  presente em todos os seres humanos. 
Uma essência que é composta de características que norteiam valores e atitudes (sensibilidade, cooperação, espirito de grupo, a cura, o cuidado, o saber intuitivo...).
Tais características  não encontram mais espaço em um mundo que, segundo Ken Wilber* “está ligeiramente louco”.
A relação predatória que o homem moderno tem com a natureza é exatamente a mesma que mantém com os valores ligados ao feminino. E as consequências estão bem aí. Diante dos nossos olhos.
Mais do que a mulher em si são esses valores (presentes nas mulheres e em muitos homens), que estão sendo esmagados pela nossa civilização.
Na verdade, eles causam medo em um modelo global de desenvolvimento (?) que privilegia o lucro e o “ter”. O modelo que vigora no mundo hoje é apoiado por atitudes  altamente competitivas, e por consequência predatórias, onde a palavra “sustentabilidade” virou piada nas mãos dos marqueteiros de plantão,  à serviço do “deus mercado”.
Como cuidadora de almas e praticante do caminho sagrado (baseado na sabedoria ancestral) tenho ao longo dos anos  trabalhado com homens e mulheres, de diversas etnias, religiões e orientações sexuais.
Essas pessoas (pelo menos a maioria delas) chegam até o consultório, confusas, assustadas, frágeis, deprimidas, instáveis, desestimuladas, sem criatividade. Incapazes de regular a própria marcha da vida. Sem forças para colocar limites e demarcar seu próprio território.
Preocupam-se demais com a opinião alheia, entregam seu poder e sua criatividade para “o outro” e vagam sem rumo em um território interior árido.  Citando aqui a analista junguiana Pinkola Estes*:
“... escolhendo parceiros, empregos ou amizades que lhe esgotam a energia (...) envolvendo-se exageradamente na domesticidade, no intelectualismo, no trabalho ou na inércia, porque são lugares mais seguros para quem perdeu os próprios instintos.”
Tais sintomas denotam algo que é impossível ignorar: A desconexão com a própria alma. A conexão só é possível através do contato com o feminino sagrado interior. Ele é a essência da ANIMA. Contém e é contido por ela.
Sem essa conexão os seres humanos (independente de gênero ou orientação sexual) perdem o sentido de si, de pertencimento e de participação na GRANDE TEIA DA VIDA*.
Ficam incapacitados de dançar a sagrada dança da vida. Renunciam ao papel de Tecelão de Sonhos*.
Fico perplexa diante do fato de que os valores do feminino são esmagados diariamente, (de forma individual e coletiva), e depois vem a “mea culpa” onde a mídia oferece um “Dia Internacional da Mulher” tentando soprar a ferida que queima há anos no Inconsciente Coletivo.
Sei também, que as mídias sociais vão ficar superlotadas de posts babacas (e com um fundo misógino disfarçado) cheio de florezinhas e coraçõezinhos e...?
Ofereço então aos leitores esse texto para reflexão. Texto que inaugura simbolicamente o Blog “Oficina de Consciência”.
Aloha Mahalo (Gratidão e Bênçãos)

Visite nosso site e leia também  “O ANIQUILAMENTO DO FEMININO PELA MÍDIA 

NOTAS:
Ken Wilber - Um dos maiores filósofos e pensadores contemporâneos, considerado o fundador do campo de Estudos Integrais, é uma das mais claras mentes e mais inteligentes vozes da atualidade.
Pinkola EstesClarissa Pinkola Estés é uma intelectual e analista junguiana de renome internacional. Foi agraciada com o primeiro prêmio Joseph Campbell de “Keeper of the Lore” (Guardiã das Tradições). Ativista e escritora profundamente envolvida em causas sociais. Foi nomeada para a Galeria de Honra das Mulheres do Colorado, em 2006.
Teia da VidaOs povos nativos de todas as etnias sempre acreditaram na rede universal que contém e sustenta toda vida, A GRANDE TEIA DA VIDA. A origem desse conceito é baseada na própria experiência e convívio com a natureza.
Segundo a cultura nativa  todos os elementos do meio ambiente estão vivos e interconectados. Todos oriundos da mesma fonte espiritual: O GRANDE MISTÉRIO.  Pedras, plantas e animais estão carregados de vida e devem receber o devido respeito para que seja mantida a harmonia e o equilíbrio.  Para os xamãs (homens santos ou homens da medicina de todas as culturas nativas), todas as formas de vida estão interligadas, e o equilíbrio mutuamente sustentador entre elas é fundamental para a sobrevivência da humanidade. Infelizmente o homem moderno não compreendeu ainda esse conceito.(Irene Carmo Pimenta)
Tecelão de SonhosNa filosofia nativa viver é “dançar o sonho”. Para os Kahunas (Hawaii) o homem é o “tecelão dos sonhos” . Aquele que tece os fios da vontade da alma na teia da vida. (Irene Carmo Pimenta)